Coletivo Marta: O esporte como espaço de debate e luta por mudanças sociais

 Por Evelyn Lemes / @evelyn.lemesj 

Logo atual do Coletivo Marta, Foto: Reprodução/ Instagram: @coletivomarta 

O Grupo de Pesquisa em Comunicação e Culturas Esportivas, mais conhecido como Coletivo Marta, nasceu em 2018, a partir da oferta de bolsas de iniciação científica, promovidas por Ana Carolina Vimieiro, jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG. Atual coordenadora do grupo, ela é apaixonada e engajada no esporte há anos — além de tenista, mantém uma vida ativa enquanto torcedora. 

Originalmente voltado à pesquisa, hoje o Coletivo realiza várias ações de extensão e ensino. A Revista Marta, criada em 2020, é uma dessas iniciativas e se dedica ao jornalismo esportivo engajado, lutando por igualdade e visibilidade para os diferentes esportes e seus protagonistas. O grupo também produz podcasts, como o “MartaCast” e o “UFMG Esportes”, que trazem as atualizações sobre as modalidades femininas e abordam as notícias esportivas da universidade (Atléticas, Centro Esportivo Universitário, Centro de Treinamento Esportivo, entre outros).

 

Capa do “MartaCast”,Foto: Reprodução/Site:revistamarta.com

Capa do “UFMG Esportes”,Foto: Reprodução/Site:revistamarta.com 

O Coletivo conta com 29 integrantes, incluindo dois professores externos à UFMG, orientandos de pós-graduação, iniciação, extensão e TCC, além de um grupo de estudantes voluntários da graduação. São realizadas também reuniões abertas, que permitem que pessoas de fora da universidade possam se integrar de alguma forma ao projeto. 

O principal objetivo da iniciativa é articular o ensino, a pesquisa e a extensão e transformar a realidade da comunicação esportiva — um campo ainda marcado por desigualdades, opressão e machismo. Além disso, o Coletivo se propõe a pesquisar e debater temas relevantes, muitas vezes ignorados pela mídia esportiva hegemônica, dando visibilidade às adversidades que permeiam o esporte. Questões que envolvem a importante atuação das mulheres na área, além de situações envolvendo violência, racismo e machismo são constantemente colocadas em pauta e levadas à discussão. 

Em entrevista para a CRIA UFMG, Ana Carolina comentou sobre a importância da presença feminina na pesquisa em comunicação esportiva: 

“O fato de eu, uma mulher, ser a coordenadora dessa iniciativa, faz com que outras mulheres e grupos que foram historicamente marginalizados no esporte se sintam à vontade para estarem presentes em disciplinas voltadas ao tema, eventos e quando nós abrimos inscrições para a entrada de membros. As pessoas costumam separar o esporte da sociedade na qual ele existe, mas ele não está separado. Muita gente acha que falar de assédio ou racismo é falar de situações externas ao esporte, mas não dá para desvincular. É um pouco essa a tônica do trabalho.” 

A universidade desempenha um papel fundamental na promoção de discussões acerca de temáticas que a sociedade muitas vezes minimiza ou ignora. Ao fomentar essas temáticas, o Coletivo Marta atua como importante agente de mudança, inclusive para além dos muros da instituição de ensino, ao fazer um trabalho de forte cunho ativista e político. 

Nesse contexto, Ana Carolina também falou sobre persistência:

“Um recado para todas as pessoas que estão engajadas no esporte – e para todas as meninas e mulheres que tem vontade de estar nesse ambiente, mesmo reconhecendo como ele ainda é difícil – é: não desistam! A vida inteira vão ter pessoas falando que esse lugar não é de vocês, mas ele pode ser sim. A gente constroí esse lugar como nosso, e isso é possível. Difícil, mas possível. Se juntem, não desistam, invistam nisso, se acreditarem que pode ser bom pra vocês.” 

Ainda que pequenas, iniciativas como o Coletivo Marta têm potencial para transformar realidades, inspirar futuras gerações e manter vivos os debates que tanto precisam ser ouvidos. É preciso que os espaços de ensino abriguem cada vez mais projetos como esse, dedicados a tirar do silenciamento os problemas sociais e as mazelas que permeiam não só o esporte no Brasil, mas também outros âmbitos da sociedade.